sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Vou-me Embora pra Pasárgada - Manoel Bandeira

Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolherei.

Vou-me embora pra Pasárgada, vou-me embora pra Pasárgada. Aqui eu não sou feliz. Lá a existência é uma aventura de tal modo inconseqüente, que Joana a Louca de Espanha, rainha e falsa demente vem a ser contraparente da nora que nunca tive.

E como farei ginástica andarei de bicicleta, montarei em burro brabo, subirei no pau-de-sebo, tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado deito na beira do rio, mando chamar a mãe-d'água pra me contar as histórias que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar. Vou-me embora pra Pasárgada.

Em Pasárgada tem tudo. É outra civilização! Tem um processo seguro de impedir a concepção, tem telefone automático, tem alcalóide à vontade, tem prostitutas bonitas para a gente namorar.

E quando eu estiver mais triste, mas triste de não ter jeito. Quando de noite me der vontade de me matar— Lá sou amigo do rei —Terei a mulher que eu quero na cama que escolherei. Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

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